domingo, 26 de janeiro de 2020

Black Friday x Boxing Day no Vaughan Mills

Quando meus pais vieram me visitar, eles escolheram novembro justamente por causa da Black Friday americana. Queriam experimentar na pele o que é esse evento. Tínhamos planejado ir pros EUA nesse dia, mas acabou que não deu certo. Mas ainda assim, aproveitamos pra ir ao Vaughan Mills, porque achei que era provável ter muvuca (e bons preços) por lá. Além disso, eu e o Armando ainda fizemos a loucura de ir nesse mesmo Outlet no Boxing Day. O bom é que a gente conseguiu ter uma boa comparação dos dois eventos.

Na Black Friday, alugamos um carro e fomos cedo. Chegamos lá por volta das 10h e pouco da manhã. O lugar estava movimentado, mas não tão cheio e achamos vaga relativamente perto da entrada. Andamos, andamos e andamos. Notamos que muitas lojas tinham promoção do tipo "se você comprar até as 10h da manhã, ganha mais tanto de desconto". Uma dessas lojas era a loja da Disney. O problema é que a fila estava GIGANTESCA, então, na hora que chegamos pra pagar no caixa tinha passado um pouco das 10 e perdemos esse descontinho extra. 

Também descobrimos que algumas lojas abriram muito mais cedo do que o horário normal (tipo, 7h da manhã!). Então, pra quem quiser ir cedo e pegar o lugar vazio, vale a pena. Mais pra hora do almoço o Outlet foi enchendo e enchendo. Paramos pra almoçar na praça de alimentação, mas foi um trabalhinho de achar mesa pra sentar, mas eventualmente conseguimos espremer nós 5 em uma mesa. Depois o Armando foi voluntariado pra levar as sacolas no carro, pra voltarmos as compras depois. Pegamos mais uma fila no banheiro (mas tenho a impressão que sempre tem fila no banheiro no Vaughan Mills) e continuamos a andança, pra uma segunda volta rápida pra passar em lojas que decidimos de última hora comprar coisas. 

Eu e o Armando não compramos tanto. As visitas compraram mais. Nas lojas que fomos as promoções estavam ok (nada muito espetacular), mas tinha umas que não nos atrevemos a entrar (principalmente lojas de bolsas), que estavam com filas homéricas. Quem queria comprar lá, passou horas na fila, certeza.

Foi um dia movimentado e cansativo, mas não vimos aquela bagunça que tem nos vídeos da Black Friday dos EUA, com gente se batendo e correndo pra pegar produtos e tal.

No Boxing Day, já foi uma história um pouco diferente. Calma. Não vimos barraco nem bagunça. Mas vimos o Vaughan Mills lotado. Mas lotado. LOTADO MESMO! Nesse dia saímos um pouco mais tarde de casa que na Black Friday e fomos de ônibus. E o ônibus já foi lotado. E tinham muitos ônibus chegando lotados. O TEMPO TODO! Em mais de um momento as pessoas pareciam uma grande massa única andando. Eu até me senti meio sufocada no meio de tanta gente. Tinha trânsito, com direito a guardinhas parando o corredor pra fila andar. Tinha ainda mais fila que na Black Friday. E as filas causavam ainda mais muvuca no corredor.

As mesmas lojas da Black Friday tinham fila, além das lojas de esportes (Nike, Puma e afins), de relógio, de roupa... Um dos critérios pra gente entrar na loja era se tinha fila ou não. A gente foi pra comprar casaco de inverno pra mim (finalmente tomei vergonha na cara pra comprar um -30 do meu tamanho e parar de usar um número menor, que tinha comprado na empolgação e sem muita experiência no meu primeiro inverno) e sapato de inverno pro Armando (finalmente tomou vergonha na cara pra comprar um sapato -20 e parar de andar com o da Timberland pra cima e pra baixo).

No meio da muvuca ficamos pensando porque que o Boxing Day era mais muvuca que a Black Friday. Os preços até estavam melhores (principalmente de roupas e sapatos!), mas a conclusão que chegamos é que, além de ter mais tradição no Canadá, é feriado, né. Enquanto que na Black Friday é dia de trabalho normal, 26 de dezembro é feriado pra todo mundo gastar mesmo. Então, faz sentido que estivesse mais cheio anyways.

Conseguimos achar casacos com preços ótimos na Mountain Warehouse (casado de qualidade de -50 a menos de 100 dólares não é em qualquer lugar!) e o Armando também achou o sapato do agrado dele (só quem colocou uma -20 no pé sabe como é ruim de ser confortável). Quando deu a hora do almoço, não tinha condições de comer na praça de alimentação. Tinha gente comendo no chão, encostada na parede, porque não tinha mesa. Pensamos em ir em um lugar fora de lá, mas estávamos quase desmaiando de fome, então decidimos ir ao Pickle Barrel e foi a melhor decisão que fizemos! Não saiu tão caro (dividimos o prato, como sempre) e, como é restaurante mesmo, tinha váárias mesas pra sentar (mas não sei se é porque naquele dia em específico estavam com problema nas máquinas de cartão e só estavam aceitando pagamento em dinheiro ou se é sempre assim). Pensamos que devíamos ter tentado comer lá na Black Friday também! O mais curioso que achei é que a entrada deles era um pratinho de picles cortados em fatias >.<

Quando voltamos pra casa (de ônibus, pegamos fila no frio pra conseguir entrar), ainda passamos no shopping que tem aqui do lado pro Armando comprar uma memória de computador que tinha visto anunciado numa loja de eletrônicos, mas quando chegamos, não tinha mais disponível! Por sorte, ele ainda conseguiu pedir online. Também comprei alguns produtos online que estava de olho há mó tempão só esperando esse dia. E fim da gastança! haha

Achei interessante que algumas lojas só fazem a promoção no dia e depois do Boxing Day (fiquei na expecativa pra saber se os produtos que eu queria comprar entrariam em promoção, porque no site não dizia NADA), mas algumas fazem promoção o mês todo. Ou a semana toda. O que pra mim perde o sentido, afinal, a ideia do Boxing Day é pra desovar as coisas que sobraram do Natal. Como é que você começa a promoção da desova antes de sequer chegar o Natal? Mas enfim né...

Foram boas experiências, mas não é pra mim fazer sempre essas coisas. Mas eu digo que vale muitoa pena, caso você queira realmente comprar algo e pagar pouco.

Até mais,
Mari! xD

PS: Eu sei que eu não tirei fotos, mas fica aqui uma reportagem do BlogTo com várias imagens que a galera tirou lá na hora!

sábado, 18 de janeiro de 2020

A pior entrevista da minha vida

Como eu comentei no post anterior, apliquei pra duas vagas pra fazer residência aqui. Uma delas foi pra ser residente de patologia anatomopatológica de animais silvestres de vida livre e cativeiro (ufa!), que não fui selecionada pra entrevista, e uma pra patologia clínica, que era a minha área de atuação de verdade no Brasil.

A primeira vez eu apliquei meio no susto. Quando eu decidi que faria residência, comecei a pesquisar possibilidades e me deparei com esse site aqui, que achei que era o principal pra aplicação pra qualquer residência. Nele, diz que a aplicação acontece só em outubro, então, fiquei tranquila. Mas um dia estava eu olhando o site de uma Universidade e vi que tinha essa vaga dos animais silvestres aberta e achei muito legal! Só que o último dia de aplicação era o dia que eu descobri ela! Mandei e-mail pra eles falando que eu tinha acabado de ver a vaga e perguntando se eu ainda poderia aplicar e eles disseram que sim. Então, juntei meus documentos rapidão (na semana seguinte) e mandei. A sorte é que a prova de IELTS Academic que eu tinha feito ia vencer dali um mês, então, eu ainda poderia usá-la. Achei que era sorte e coisa do destino, então, aguardei pra ver que que ia dar. Nesse meio tempo, mandei e-mail perguntando como era o processo, porque no Brasil a gente tem que fazer prova e entrevista, aqui só dizia que eu tinha que mandar o currículo, carta de intenções, histórico, nota de inglês e 3 referências. Me responderam dizendo que eu teria que passar por uma entrevista. Muitoos meses depois, nos quais eu ficava checando quase diariamente o meu e-mail e o e-mail que eles criaram pra mim no site da universidade, recebi um e-mail na minha caixa de mensagens do professor dizendo que eles haviam selecionado outra pessoa (apliquei em abril, recebi esse e-mail em julho). Tudo bem, faz sentido porque não é bem minha área. Mas usei os aprendizados dessa aplicação pra aguardar a realmente esperada: de Patologia Clínica, que eu não sabia se iria acontecer direto no site da universidade ou no virmp, então, fiquei monitorando os dois.

Em setembro, abriu a vaga que eu queria! Usei os aprendizados da última aplicação e mudei um pouco meu approach. Achei que seria uma boa primeiro mandar e-mail pro professor me apresentando brevemente, falando meu interesse e perguntando como era a seleção, especialmente com relação a prazos (porque não tem em nenhum lugar informando!). Ele me respondeu dizendo que iriam entrar em contato com os candidatos no começo de dezembro pra fazer entrevistas. Outra mudança que fiz na minha aplicação foi mudar duas referências, baseada no tipo de pergunta que fizeram pras que eu mandei da primeira vez. Uma das perguntas era sobre nível de inglês. Da primeira aplicação, mandei só referências do Brasil, de pessoas que trabalharam comigo e minha orientadora. Dessa vez, mantive minha orientadora (que não precisou mandar de novo porque me disseram que já estava no sistema), mandei da minha ex-chefe do Brasil (ia mandá-la da primeira, mas não consegui entrar em contato a tempo e, como o prazo foi apertado, acabei mandando outra pessoa) e de uma pessoa que trabalha comigo atualmente. E também tive que fazer outra prova de inglês, que foi o CAEL, como contei aqui.

Agora era só aguardar dezembro. Ahh, um pouco depois de ter enviado minha aplicação, recebi um e-mail automático dizendo que não tinha sido aprovada na primeira vaga que eu apliquei (que susto que eu levei! haha)

No dia 4 de dezembro, uma das professoras me manda e-mail dizendo que minha aplicação estava incompleta (faltando uma das referências) e que eu deveria resolver isso até dia 9 pra ser considerada pra vaga. Entrei em desespero e já imaginei qual era o erro: a referência da minha orientadora, que disseram que não precisaria mandar de novo. Mandei e-mail pra professora (perguntando se ela sabia qual a referência que estava faltando), pra pessoa que me disse que minha orientadora não precisava mandar de novo e pra pessoa que essa professora sugeriu que poderia me ajudar a resolver isso. No fim, consegui resolver a tempo (eles re-encaminharam a referência da orientadora com a minha aplicação) e, alguns dias depois, fui chamada pra entrevista por skype! <õ>

Nisso, entrei em contato com um patologista da minha empresa e perguntei como era a entrevista e tals, se ele poderia dar dicas, se perguntavam mais sobre background ou se era coisa mais específica da área, pra eu saber se precisava dar uma revisada ou não. Ele me parabenizou e disse que se eu tinha sido chamada pra entrevista, é porque eles gostaram de mim. Disse que a entrevista era bem tranquila, que perguntaram mais pra ele sobre a vida dele, até sobre hobbies e coisas do começo da faculdade e que não entraram muito em detalhes da área mesmo. Mas se entrassem, ele acreditava que não seria muito em detalhes e que eu deveria conseguir com o meu conhecimento geral. Também disse que fez há muito tempo a entrevista dele (pelos meus cálculos, foi depois de 2010) e não sabia se tinham mudado o estilo. Então, me preparei pra isso.

Na hora marcada, depois de uma noite de trabalho, estava aqui eu no computador esperando a ligação, com uma crise pessoal: será que eu realmente quero fazer isso? Eu vim pro Canadá querendo mudar de área, será que eu realmente quero passar pela residência de novo? Será que eu vou conseguir emprego depois da residência? Será que vai dar certo a ideia da Restricted License? O salário é realmente muito bom, quando eu conseguir finalizar tudo. E existe a possibilidade de trabalhar de casa, com as tecnologias que estão chegando aí. Será que eu mudo pra Guelph, fico em Toronto viajando todo dia ou moro numa cidade no meio do caminho?

No meio desse turbilhão, graças a minha mente altamente reativa (para saber mais, recomendo a leitura do livro O Porder dos Quietos haha), consigo usar técnicas de respiração e concentração pra me acalmar e pensar que: nada disso importa agora. Agora é a entrevista, isso a gente pensa depois. A ligação aconteceu pontual. Três professores estavam na sala do outro lado: os dois que já tinham trocado e-mail comigo e mais uma. E começaram as perguntas. Disseram que eram 10 perguntas padrão para todos os candidatos. A primeira foi pra eu falar uma vantagem e uma desvantagem minha em situações de deadline. Respondida. Qual era meu plano pra manter o equilíbrio entre minha vida pessoal e a vida estressante do programa? (oi, como assim?). Respondida (mas com uma preocupação). E depois, fizeram 8 PERGUNTAS ALTAMENTE ESPECÍFICAS DE PATOLOGIA CLÍNICA. Ou pelo menos, eu achei específicas e que requeriam pelo menos uma revisão prévia do conteúdo. Muitas coisas eu lembrava que já tinha estudado, mas que nunca realmente usei ou usei há muito tempo, então, eu não consegui dar respostas muito boas. Em 3 perguntas eu simplesmente disse: sorry, I don't know that one (Armando até falou que eu deveria ter enrolado. Mas sério, você sabe quando você está indo muito mal e, nesse caso, eu já estava enrolando nas que eu sabia mais ou menos, não ia adiantar muito enrolar nas que eu não lembrava nada). Enfim, no fim da entrevista eles agradeceram e perguntaram se eu tinha alguma pergunta. Eu disse não (óbvio que não, eu sabia que tinha mandado malzão, não tinha nem porque perguntar nada) e quase mandei um "desculpe por fazer vocês perderem o tempo de vocês" (mas claro que não disse isso haha) e desligamos.

Fiquei bem chocada com a entrevista, mas eu sei que meu resultado não reflete a minha real capacidade e conhecimento (se tivesse sido uma prova com nota, acho que eu teria tirado uns 5 de 10, no máximo). A entrevista foi basicamente uma prova oral. E, se você quer ir bem numa prova, você tem que se preparar pra ela. Imagina ir pra última prova de pato vet (entendedores entenderão), de necrópsia em grupo, sem ter estudado nada e ter que fazer ela sozinho? Foi como eu me senti. Minha entrevista só refletiu meu despreparo. E isso me levantou vários questionamentos. Várias das coisas que eles me perguntaram, eu esperava saber responder no fim no programa, quando fosse aplicar pra prova de certificação de patologista, não pra entrar (como aconteceu quando eu fiz a residência no Brasil ou em qualquer programa de estudo, na verdade, que você entra sabendo um pouco/o básico e sai sabendo beeem mais). Será que o programa é tão louco assim que eu aprenderia ainda mais do que aquilo que foi perguntado? Ou será a universidade tem um ranking tão alto porque pega alunos que já sabem tudo e não precisam ensinar nada pra eles? Será que a prova do ACVP é tão difícil assim? E qual foi a da pergunta falando sobre ser um programa estressante? Fico feliz que eles se preocupem com a sanidade mental dos alunos deles, mas será que não tem algo de errado nesse sistema ai não? Pra terem perguntado na entrevista, deve ser algum problema recorrente, será? Eu achei que o programa deles seria mais organizado que o do Brasil e que seria muito bom, mas depois disso, fiquei com minhas dúvidas.

Nos primeiros dias depois da entrevista, eu tive certeza que não teria passado. Mas depois de alguns dias, em que a tensão e a decepção (de ter ido mal, não da possibilidade de não ser chamada) deu uma aliviada, pensei: vai que os outros candidatos também foram ruim? Nunca se sabe, não é mesmo? Vai que só tinha eu de candidata? E fiquei me perguntando, se eu passasse, se realmente queria aceitar ou não, baseado na experiência da entrevista. Lembrando da minha própria residência e das minhas crises de ansiedade que vieram mais ou menos na mesma época, balanceando com minha vida atual, meus objetivos, atual estilo de vida, estava com receio de passar a acabar me vendo "obrigada" a aceitar essa possibilidade ótima que estava aparecendo na minha porta, sonho de muitos, com possibilidades de salários altíssimos e trabalho de casa e blablabla (o que já é um indício de que, na real, eu talvez não quisesse tanto assim).

No dia 19 de dezembro, recebi um e-mail do professor dizendo que eu não fui selecionada, que tenho algumas deficiências de conhecimento básico de patologia clínica (se aquilo que me perguntaram é básico aqui, não imagino o que é avançado!) e que ele recomenda eu continuar estudando se eu quiser aplicar novamente no futuro. Que eu preciso ter o mesmo nível de performance de um 'high-performing senior veterinary student' pra entrar. Eu até respondi que não estava preparada praquele tipo de entrevista (que na verdade era uma prova oral, não uma entrevista, nos meus padrões - mas não disse isso né) e que tinha planejado revisar caso passasse (mas acho que deveria ter começado a revisão assim que decidi que ia aplicar <õ>)

E, no fim das contas, pra mim foi um alívio pessoal não ter entrado no programa. Senti um grande peso saindo das minhas costas de não precisar falar mais que sou veterinária pra ninguém e ver a pessoa abrindo aquele sorriso cheio de expectativas: "que legal! Eu sempre quis ser veterinári@ também" "Sabe, o pet da tia da minha vizinha tem isso, o que você acha que é?" "Quando meu cachorro/gato/papagaio tiver problema, já sei pra quem perguntar!". E eu ter que explicar que não trabalho com clínica/cirurgia/odontologia/etc..., que não tem como saber sem ver o animal, etc... (algo que eu não sabia que era um peso pra mim, mas, aparentemente, era). Aliás, percebi que o peso que saiu foi também porque eu "perdi minha obrigação" (se bem que ninguém é obrigado a nada nessa vida) de contar pra quem me pergunta "o que você fazia no Brasil?" minha história triste como eu era veterinária no Brasil e como é difícil ser veterinário no Canadá e como eu estou no limbo veterinária-sem-ser-veterinária. Agora, oficialmente pra mim (e pro Canadá desde sempre), não sou mais veterinária (apesar do conhecimento ainda estar aqui e eu puder usar isso em alguns momentos, para efeitos oficiais, não sou vet no Canadá). Tentei, como todo mundo falou pra eu tentar, não consegui, agora é bola pra frente! Vou começar a dizer que sou Medical Laboratory Technician e é isso aí! \õ/

Até mais,
Mari! xD

PS: Mesmo eu não tendo conseguido, eu realmente acredito que se eu tivesse mandado muito bem na entrevista eu teria entrado. Então, fica aí a dica pra caso alguém queira aplicar um dia, se prepare muito. Mas muito. Como nunca se preparou na sua vida! E é possível sim fazer residência (ou participar de um DVS program) no Canadá - eu achei que tinha grandes possibilidades de eu nem ser chamada pra entrevista por ter me formado fora, mas, aparentemente, estava muito enganada! ;)

PS 2: Nunca se sabe se um dia eu vou mudar de ideia e acabe aplicando de novo. Mas, para todos os efeitos, não é minha prioridade no momento nem planejo que seja num futuro distante! =D

PS3: Em tempo

Ter de 18 - 25 é tipo jogar um jogo de video game em que você pulou o tutorial e agora está andando aleatoriamente sem noção de como nada funciona
Ter de 25 - 30 é tum pouco depois nesse jogo, quando você descobriu como as coisas funcionam, mas tomou decisões ruins ao longo do caminho e agora está terrivelmente despreparado para o que você deveria estar fazendo
Ter de 30 - 35 é chegar a conclusão que, se brandir a espada violentamente sem direção enquanto grita fez você chegar aonde está agora, melhor continuar assim.
[tradução livre]

domingo, 12 de janeiro de 2020

Como atuar como veterinário no Canadá, sendo um veterinário imigrante formado no exterior

Sempre que as pessoas me perguntam o que eu fazia no Brasil e eu digo que eu era veterinária, todos abrem o olho e falam: nossa, mas por que você não tenta ser veterinária aqui também? Eu já escrevi aqui o caminho oficial para quem é formado no exterior ser veterinário no Canadá e sempre explicava isso pra quem me falava pra tentar. Mas de tanto me falarem isso, era algo que estava sempre na minha cabeça. Um dia fui olhar vagas de veterinários e tive o impulso que me faltava: salário de clínico pode chegar a mais de 100.000 dólares canadenser por ano! Imagine só? Assim até eu quero trabalhar com clínica hahaha (mentira >.< ou será que não? ~.^). Finalmente, resolvi dar mais uma pesquisada a fundo pra saber se não existem outras possibilidades (porque né, pra ganhar 100,000 por ano às vezes até vale a tentativa haha).

Depois de ler o site do CVO de cabo a rabo, encontrei uma pequena parte que cita uma tal de Restricted Licensure, mas eles não dão muitos detalhes. Então, mandei um e-mail perguntando mais informações sobre isso e sobre licença de estudos. Achei a resposta bastante animadora (vou colar a resposta que tive aqui, mas recomendo quem quiser tentar entrar em contato com eles de novo, porque nunca se sabe se a burocracia mudou. Isso foi o que me informaram no começo do ano passado):

If you are accepted into a residency program at the University of Guelph then you would eligible for a Postgraduate and Resident licence with the College. This licence type does not require completion of the National Board Exams (BCSE, NAVLE and CPE).

If you do not obtain a residency position, the other option is to apply for a Restricted licence limited pathology. In the past, the College’s Registration Committee has considered applications for a Restricted Licences limited to a scope from those applicants who request an exemption from the requirement to pass the National Examination Board examination(s) due to the fact that they have received higher education or experience in their field of focus. Eligible applicants may be granted Restricted Licences by the College’s Registration Committee.

Please follow the below links to find information about restricted licences:  
  1. Information about requesting an application referral to the Registration Committee: http://www.cvo.org/For-Applicants/Registration.aspx.
  2. The College’s Registration Committee has a policy on Restricted licensure and it can be found by following this link: http://www.cvo.org/CVO/media/College-of-Veterinarians-of-Ontario/Applicant%20Section%20Documents/LicensurePolicies.pdf  

If you would like to apply for a Restricted licence: In order to be placed on the agenda for an upcoming Registration Committee meeting, the College would need to receive a completed application form and payment for the application. In addition to your application form, the following materials may be submitted to support a request:
  • a letter addressed to the Registration Committee outlining the request and the reasons why the request should be granted;
  • a current resume detailing experience in veterinary medicine to date;
  • employment confirmation letters from all past and/or present employers in any jurisdiction where the applicant has practised that states responsibilities, employment dates and length of practice experience with that employer;
  • any other information that the applicant believes would support their request.
Applicants who have postgraduate degrees/diplomas in a relevant field, the Committee will require the following information be submitted for its review:
  • A list of requirements for their graduate program, including:
    • Experience and exposure to clinical material,
    • Practical experience,
    • Research,
    • Coursework ,and
    • Teaching

  • A letter from the supervisor of the candidate including:
    • An outline of the program undertaken and completed
    • An opinion of the candidate’s suitability for the licence requested and
    • A review of the applicant’s competencies in clinical duties and course work.

Registration steps and timelines are determined by what type of applicant you are. Applicant types can be found by following this link: http://www.cvo.org/For-Applicants/Applicant-Types.aspxI have summarized the steps below for your assistance.  

  1. Submit the following documentation in order to become eligible to write the CVO jurisprudence exam:

Once the above has been received, you will receive an e-mail confirming your eligibility to take the exam. Candidates are expected to contact the testing facility directly to book a date to sit for the exam (two weeks notice is generally advised). The exam is offered at College approved proctoring facilities. Detailed information about the exam can be found at: https://cvo.org/For-Applicants/Jurisprudence-Exam.aspx

You do not have to take the CVO Jurisprudence Exam before the Registration Committee meeting.

  1. Submit the remainder of the required documents.  Under the applicant section of the College’s website is a link called “Registration Requirements” http://www.cvo.org/For-Applicants/Registration/Registration-Requirements-(1).aspx  . This page contains detailed information about the registration requirements for all licence types and how these requirements can be met.

  1. Submit payment of appropriate licence fees (see page 7 of the application form).

Com essa resposta, bolei um plano infalível: eu faria a residência aqui e, depois disso, aplicaria pra Restricted License pra atuar em Patologia Clínica. Mas por que fazer a residência de novo, se eu já tenho a do Brasil e poderia aplicar direto pra Restricted License? Porque, se eu quiser atuar como patologista aqui, eu ainda tenho que passar pela certificação de patologista do ACVP e, pra isso, a residência daqui me ajudaria muito, tanto pra praticar e aprender termos, quanto pra aprender métodos diagnósticos que não fazemos no Brasil, como análise de citologia, que é algo que o Patologista Clínico faz aqui, mas no Brasil, não é a gente que faz, então, não aprendi na prática. Além disso, as doenças mais comuns daqui são bem diferentes do Brasil, então, é bom pra saber o que é mais provável de cair.

Com isso em mente, apliquei pra uma vaga de residência aqui (duas, na verdade), que contarei num próximo post xD

Mas, mesmo que você, assim como eu, não queira fazer a licença logo de cara, ou nunca, por qualquer motivo que seja, não se desespere, porque veterinário formado no exterior também acha emprego no Canadá, claro que não como veterinário. Quando eu estava pra vir, vi tanta gente falando que não conseguiria porque era uma profissão regulamentada e tals, que achei que ia ficar desempregada e nunca achar emprego na área. Apesar de que nunca foi meu objetivo ficar na área, mas usar a experiência prévia me ajudou a não ficar num entry level job ganhando salário mínimo, por exemplo, o que pra mim é uma vantagem. 

Onde procurar vagas vai depender da sua experiência anterior. Das vets que se formaram no exterior que estão no Canadá agora, conheço uma que trabalha como técnica em uma clínica (que basicamente é quem põe a mão no animal mesmo. Ela tinha experiência com radiologia), uma que trabalha de assistente numa farmácia de medicamentos veterinários (trabalhava como clínica), uma que trabalha com banho e tosa (acho que era clínica, mas não tenho certeza), uma que trabalha em um laboratório de pesquisa em animais (tinha mestrado em patologia anatomopatológica) e eu, que trabalho de técnica num laboratório veterinário (era patologista clínica). Claro que o salário não vai chegar a 100.000 por ano, mas é o suficiente pra pagar as contas e sobrar um pouquinho, dependendo do seu estilo de vida e da onde morar. 

Outras possibilidades que eu já vi vaga que podem ser boas também pra quem é vet formado no exterior, dependendo da experiência que tem, é trabalhar com: microbiologia em laboratório de alimentos (arrisco dizer que consegue em outros labs de micro, mas não conheço ninguém pra confirmar minha suspeita. Já apliquei pra vagas assim, mas nunca fui selecionada pra entrevista, provavelmente porque não tenho experiência com micro), técnico veterinário em fazendas (já vi algumas vagas pra cuidar de cavalo e galinhas, por exemplo) ou no zoológico (sonho de consumo *-*), administrador de clínica veterinária (acredito que é uma boa pra quem teve uma clínica no Brasil), research assistant (principlamente se tiver experiência com PCR e/ou cultura de células) ou inspetor de indústrias de alimentos (pra quem trabalhava inspecionando os lugares). Também existem algumas certificações complementares que podem ajudar quem quiser seguir na mesma carreira que tinha no Brasil, como em saúde pública, por exemplo. Tudo depende do que se quer fazer e, o principal: pensar fora da caixa pra achar vagas baseadas na sua experiência!

Espero que esse post tenha dado uma luz pra quem está nesse caminho aí. Eu sei como é difícil achar informações sobre isso, especialmente antes de chegar, com toda a expecativa rolando, documentação, vender coisas, despedir das pessoas. Muita coisa só dá pra saber mesmo depois que chega e passa o período inicial, que também é movimentado. Mas aos poucos as coisas vão se ajeitando e, no fim, sempre dá tudo certo! =D

Até mais,
Mari! ;)

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Sleding no Linus Park - segunda temporada!

Quando meus pais vieram me visitar e disseram que queriam ver neve, ficamos na torcida pra nevar, já que nem sempre em novembro neva. Por sorte, nevou bastante! E, com isso, não podíamos deixar de ir ao Linus Park mostrar pra eles uma das maiores diversões do inverno: descer morros em pranchas, também conhecido como sledding

Uma coisa que aprendemos aqui é que, quando tem neve boa pra fazer as atividades, tem que sair sem pensar duas vezes. Nesse dia, saímos cedo pra passear no Downsview Market e, depois de um almoço muito atrasado, chegamos tarde em casa. Mas ainda assim não desanimamos e já saímos de novo, porque se deixasse pro dia seguinte, podia ser que não tivesse mais neve. Dito e feito: esse foi o melhor dia pra ter ido descer mesmo!


A pior parte é a volta/subida

=D

E claro que não dá pra ter uma boa noção do sled sem vídeo! Então, aqui vai! =D


Até mais,
Mari! xD

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Processo Professioal Engineer Ontario

E ai gente! Espero que vocês tenham tido boas entradas! Sei que demorou mais do que o previsto, MAS não vão se decepcionar. Finalmente vou falar um pouco sobre o processo de aplicação para ser Professional Engineer que eu fiz aqui em Toronto. Vou falar especificamente do processo daqui da província (Ontario) então caso você vá pra outra província pode ser que tenha algumas diferenças do processo.

Bom primeiro vamos a algum background certo? Aqui no Canadá como no Brasil tem um órgão regulador caso você queira exercer a profissão de Engenheiro (mas lembrando que você pode trabalhar com engenharia sem problemas aqui. Essa licença só serve caso você precise assinar os projetos). No caso do Brasil esse orgão é o CREA. Aqui na provincia de Ontario o orgão se chama PEO - Professional Engineeres Ontario (sim, aqui eles são bastante simples com siglas). Quando fiz o curso do ELT, um profissional do P.Eng foi lá explicar como funciona o processo. São dois tipos de comprovação que precisa: a educacional e a experiência de trabalho.

Vamos falar de uma por vez, porque aqui começa a complicar. Quando você faz um curso de bacharelado aqui no Canadá que entra na lista de Programas de engenharia credenciados no Canadá (vulgo CEAB, caso esbarrem com essa sigla por aí), a documentação para comprovação educacional que você precisa é o seu histórico e o seu diploma. Caso não tenha se formado no Canadá (que é o meu caso) o buraco é mais embaixo.

Primeiro você precisa pegar o seu histórico e o seu diploma e levar para uma tradução juramentada. Aí existem duas opções: ou você faz com um tradutor juramentado da Associação de Tradutores e Intérpretes de Ontário - ATIO (a tradução juramentada do Brasil não funciona) ou você mesmo pode traduzir e depois levar pra um P. Eng que você conheça e que fale a sua língua natal e eles meio que autenticam a sua tradução. Procurei na base de dados do PEO alguns engenheiros brasileiros daqui (na verdade olhei nomes que pareciam ser de brasileiros e entrei em contato com alguns através do Linkedin mas nenhum deles nem me respondeu). Então parti para o plano B de achar um tradutor juramentado.

Um amigo meu de Ottawa, que também fez esse processo, me passou o contato de um tradutor juramentado brasileiro e o preço estava bom, então, fiz com ele. Eu entrei em contato com ele no sábado e na quinta feira já tinha a tradução comigo.

Caso esteja tudo ok com sua graduação (inclusive se você estiver graduado aqui no Canadá), você recebe o título de Engineer in Training - EIT, para poder começar a ter a experiência de trabalho requerida.

Agora a parte da comprovação da experiência de trabalho para ser o P. Eng. Precisa de 5 anos de trabalho comprovado na área da engenharia e desses, 1 precisa ser no Canadá com um supervisor seu precisando ser um P. Eng. Se você tiver todo o tempo pedido sem a experiência canadense você pode passar por uma entrevista pra pegar a licença. No papel da aplicação você coloca as informações da empresa que você trabalhou (como o nome, endereço) e o nome do seu supervisor. No meu caso, como eu não tinha os 48 meses, eu nem me dei ao trabalho de preencher essa parte.

Com posse e todos os documentos você vai na sede do PEO que fica perto do metro da Sheppard-Younge e paga $360 CAD + taxas ($406,80 CAD no total). Eles então avaliam o seu processo (um grupo de voluntários olha o processo de todos os que aplicam) e depois de um tempo eles retornam com o resultado.

Aí depois disso tudo, vocês acham que o processo acabou, correto? Errado! Caso você tenha uma resposta positiva, tanto da comprovação escolar e do trabalho, você ainda precisa fazer a Professional Practical Examination - PPE, que nada mais é que uma prova de ética (sim, ética, por mais estranho que pareça), regulamentação da engenharia aqui em Ontário e responsabilidade profissional. Essa prova é obrigatória para todos, inclusive quem é formado engenheiro aqui no Canadá. Existem vários locais onde você pode fazer essa prova e ela é aplicada em 3 épocas do ano: abril, agosto e dezembro.

Aí depois que você completar tudo isso (comprovação educacional, 5 anos de experiência e prova de ética) é que você vai ser considerado um P. Eng. em Ontário.

No meu caso eu mandei o histórico e o diploma da graduação e do mestrado, mas segundo eles as disciplinas que eu fiz não foram suficientes para se equiparar a um bacharel canadense. Então, pra eu continuar o processo eu tenho duas opções: ou eu faço uma prova confirmatória deles (pra eles terem certeza que eu tenho todo o conhecimento necessário para ser um P. Eng.) ou eu faço um curso de Bridging  de 2 anos da Universidade Ryerson.

Enquanto isso eles me deram a certificação de EIT (Engineer in training) e um prazo de 5 anos para completar o processo. Tanto a parte do estudo quanto a parte da experiência.  A coisa boa de ser um EIT é que já posso usufluir dos beneficios igual ao P. Eng., como o networking deles (e algumas vagas de emprego são especificamente para EIT). 

Ah so esqueci de falar o mais importante: se você der entrada no processo com 6 meses de landing aqui no Canadá como residente permanente, o processo fica de graça e o primeiro ano da anuidade também (sim, mesmo sendo um EIT se paga uma anuidade, menor que um P. Eng., mas ainda tem)!

Então é isso meu povo tá ai mais ou menos como foi o meu processo. Sei que parece bem confuso (e é mesmo) então vou por um fluxograma aqui tirado do site pra ver se fica mais fácil de entender.

Fluxograma do processo de admissão

E também vou por uns links caso alguém queira mais informações:



Até a próxima,
Armando out!
 









PS: Não se sintam desencorajados pela minha experiência. Conheço dois casos de pessoas que não precisaram fazer a prova confirmatória nem o curso de Bridging, já foram direto pra prova de ética. Um deles fez a graduação no Brasil (na mesma faculdade que eu) e o mestrado aqui no Canadá e o outro tem toda a educação no Brasil, porém com graduação, mestrado e doutorado. 

Então bora pra frente que atrás vem gente.