sábado, 18 de janeiro de 2020

A pior entrevista da minha vida

Como eu comentei no post anterior, apliquei pra duas vagas pra fazer residência aqui. Uma delas foi pra ser residente de patologia anatomopatológica de animais silvestres de vida livre e cativeiro (ufa!), que não fui selecionada pra entrevista, e uma pra patologia clínica, que era a minha área de atuação de verdade no Brasil.

A primeira vez eu apliquei meio no susto. Quando eu decidi que faria residência, comecei a pesquisar possibilidades e me deparei com esse site aqui, que achei que era o principal pra aplicação pra qualquer residência. Nele, diz que a aplicação acontece só em outubro, então, fiquei tranquila. Mas um dia estava eu olhando o site de uma Universidade e vi que tinha essa vaga dos animais silvestres aberta e achei muito legal! Só que o último dia de aplicação era o dia que eu descobri ela! Mandei e-mail pra eles falando que eu tinha acabado de ver a vaga e perguntando se eu ainda poderia aplicar e eles disseram que sim. Então, juntei meus documentos rapidão (na semana seguinte) e mandei. A sorte é que a prova de IELTS Academic que eu tinha feito ia vencer dali um mês, então, eu ainda poderia usá-la. Achei que era sorte e coisa do destino, então, aguardei pra ver que que ia dar. Nesse meio tempo, mandei e-mail perguntando como era o processo, porque no Brasil a gente tem que fazer prova e entrevista, aqui só dizia que eu tinha que mandar o currículo, carta de intenções, histórico, nota de inglês e 3 referências. Me responderam dizendo que eu teria que passar por uma entrevista. Muitoos meses depois, nos quais eu ficava checando quase diariamente o meu e-mail e o e-mail que eles criaram pra mim no site da universidade, recebi um e-mail na minha caixa de mensagens do professor dizendo que eles haviam selecionado outra pessoa (apliquei em abril, recebi esse e-mail em julho). Tudo bem, faz sentido porque não é bem minha área. Mas usei os aprendizados dessa aplicação pra aguardar a realmente esperada: de Patologia Clínica, que eu não sabia se iria acontecer direto no site da universidade ou no virmp, então, fiquei monitorando os dois.

Em setembro, abriu a vaga que eu queria! Usei os aprendizados da última aplicação e mudei um pouco meu approach. Achei que seria uma boa primeiro mandar e-mail pro professor me apresentando brevemente, falando meu interesse e perguntando como era a seleção, especialmente com relação a prazos (porque não tem em nenhum lugar informando!). Ele me respondeu dizendo que iriam entrar em contato com os candidatos no começo de dezembro pra fazer entrevistas. Outra mudança que fiz na minha aplicação foi mudar duas referências, baseada no tipo de pergunta que fizeram pras que eu mandei da primeira vez. Uma das perguntas era sobre nível de inglês. Da primeira aplicação, mandei só referências do Brasil, de pessoas que trabalharam comigo e minha orientadora. Dessa vez, mantive minha orientadora (que não precisou mandar de novo porque me disseram que já estava no sistema), mandei da minha ex-chefe do Brasil (ia mandá-la da primeira, mas não consegui entrar em contato a tempo e, como o prazo foi apertado, acabei mandando outra pessoa) e de uma pessoa que trabalha comigo atualmente. E também tive que fazer outra prova de inglês, que foi o CAEL, como contei aqui.

Agora era só aguardar dezembro. Ahh, um pouco depois de ter enviado minha aplicação, recebi um e-mail automático dizendo que não tinha sido aprovada na primeira vaga que eu apliquei (que susto que eu levei! haha)

No dia 4 de dezembro, uma das professoras me manda e-mail dizendo que minha aplicação estava incompleta (faltando uma das referências) e que eu deveria resolver isso até dia 9 pra ser considerada pra vaga. Entrei em desespero e já imaginei qual era o erro: a referência da minha orientadora, que disseram que não precisaria mandar de novo. Mandei e-mail pra professora (perguntando se ela sabia qual a referência que estava faltando), pra pessoa que me disse que minha orientadora não precisava mandar de novo e pra pessoa que essa professora sugeriu que poderia me ajudar a resolver isso. No fim, consegui resolver a tempo (eles re-encaminharam a referência da orientadora com a minha aplicação) e, alguns dias depois, fui chamada pra entrevista por skype! <õ>

Nisso, entrei em contato com um patologista da minha empresa e perguntei como era a entrevista e tals, se ele poderia dar dicas, se perguntavam mais sobre background ou se era coisa mais específica da área, pra eu saber se precisava dar uma revisada ou não. Ele me parabenizou e disse que se eu tinha sido chamada pra entrevista, é porque eles gostaram de mim. Disse que a entrevista era bem tranquila, que perguntaram mais pra ele sobre a vida dele, até sobre hobbies e coisas do começo da faculdade e que não entraram muito em detalhes da área mesmo. Mas se entrassem, ele acreditava que não seria muito em detalhes e que eu deveria conseguir com o meu conhecimento geral. Também disse que fez há muito tempo a entrevista dele (pelos meus cálculos, foi depois de 2010) e não sabia se tinham mudado o estilo. Então, me preparei pra isso.

Na hora marcada, depois de uma noite de trabalho, estava aqui eu no computador esperando a ligação, com uma crise pessoal: será que eu realmente quero fazer isso? Eu vim pro Canadá querendo mudar de área, será que eu realmente quero passar pela residência de novo? Será que eu vou conseguir emprego depois da residência? Será que vai dar certo a ideia da Restricted License? O salário é realmente muito bom, quando eu conseguir finalizar tudo. E existe a possibilidade de trabalhar de casa, com as tecnologias que estão chegando aí. Será que eu mudo pra Guelph, fico em Toronto viajando todo dia ou moro numa cidade no meio do caminho?

No meio desse turbilhão, graças a minha mente altamente reativa (para saber mais, recomendo a leitura do livro O Porder dos Quietos haha), consigo usar técnicas de respiração e concentração pra me acalmar e pensar que: nada disso importa agora. Agora é a entrevista, isso a gente pensa depois. A ligação aconteceu pontual. Três professores estavam na sala do outro lado: os dois que já tinham trocado e-mail comigo e mais uma. E começaram as perguntas. Disseram que eram 10 perguntas padrão para todos os candidatos. A primeira foi pra eu falar uma vantagem e uma desvantagem minha em situações de deadline. Respondida. Qual era meu plano pra manter o equilíbrio entre minha vida pessoal e a vida estressante do programa? (oi, como assim?). Respondida (mas com uma preocupação). E depois, fizeram 8 PERGUNTAS ALTAMENTE ESPECÍFICAS DE PATOLOGIA CLÍNICA. Ou pelo menos, eu achei específicas e que requeriam pelo menos uma revisão prévia do conteúdo. Muitas coisas eu lembrava que já tinha estudado, mas que nunca realmente usei ou usei há muito tempo, então, eu não consegui dar respostas muito boas. Em 3 perguntas eu simplesmente disse: sorry, I don't know that one (Armando até falou que eu deveria ter enrolado. Mas sério, você sabe quando você está indo muito mal e, nesse caso, eu já estava enrolando nas que eu sabia mais ou menos, não ia adiantar muito enrolar nas que eu não lembrava nada). Enfim, no fim da entrevista eles agradeceram e perguntaram se eu tinha alguma pergunta. Eu disse não (óbvio que não, eu sabia que tinha mandado malzão, não tinha nem porque perguntar nada) e quase mandei um "desculpe por fazer vocês perderem o tempo de vocês" (mas claro que não disse isso haha) e desligamos.

Fiquei bem chocada com a entrevista, mas eu sei que meu resultado não reflete a minha real capacidade e conhecimento (se tivesse sido uma prova com nota, acho que eu teria tirado uns 5 de 10, no máximo). A entrevista foi basicamente uma prova oral. E, se você quer ir bem numa prova, você tem que se preparar pra ela. Imagina ir pra última prova de pato vet (entendedores entenderão), de necrópsia em grupo, sem ter estudado nada e ter que fazer ela sozinho? Foi como eu me senti. Minha entrevista só refletiu meu despreparo. E isso me levantou vários questionamentos. Várias das coisas que eles me perguntaram, eu esperava saber responder no fim no programa, quando fosse aplicar pra prova de certificação de patologista, não pra entrar (como aconteceu quando eu fiz a residência no Brasil ou em qualquer programa de estudo, na verdade, que você entra sabendo um pouco/o básico e sai sabendo beeem mais). Será que o programa é tão louco assim que eu aprenderia ainda mais do que aquilo que foi perguntado? Ou será a universidade tem um ranking tão alto porque pega alunos que já sabem tudo e não precisam ensinar nada pra eles? Será que a prova do ACVP é tão difícil assim? E qual foi a da pergunta falando sobre ser um programa estressante? Fico feliz que eles se preocupem com a sanidade mental dos alunos deles, mas será que não tem algo de errado nesse sistema ai não? Pra terem perguntado na entrevista, deve ser algum problema recorrente, será? Eu achei que o programa deles seria mais organizado que o do Brasil e que seria muito bom, mas depois disso, fiquei com minhas dúvidas.

Nos primeiros dias depois da entrevista, eu tive certeza que não teria passado. Mas depois de alguns dias, em que a tensão e a decepção (de ter ido mal, não da possibilidade de não ser chamada) deu uma aliviada, pensei: vai que os outros candidatos também foram ruim? Nunca se sabe, não é mesmo? Vai que só tinha eu de candidata? E fiquei me perguntando, se eu passasse, se realmente queria aceitar ou não, baseado na experiência da entrevista. Lembrando da minha própria residência e das minhas crises de ansiedade que vieram mais ou menos na mesma época, balanceando com minha vida atual, meus objetivos, atual estilo de vida, estava com receio de passar a acabar me vendo "obrigada" a aceitar essa possibilidade ótima que estava aparecendo na minha porta, sonho de muitos, com possibilidades de salários altíssimos e trabalho de casa e blablabla (o que já é um indício de que, na real, eu talvez não quisesse tanto assim).

No dia 19 de dezembro, recebi um e-mail do professor dizendo que eu não fui selecionada, que tenho algumas deficiências de conhecimento básico de patologia clínica (se aquilo que me perguntaram é básico aqui, não imagino o que é avançado!) e que ele recomenda eu continuar estudando se eu quiser aplicar novamente no futuro. Que eu preciso ter o mesmo nível de performance de um 'high-performing senior veterinary student' pra entrar. Eu até respondi que não estava preparada praquele tipo de entrevista (que na verdade era uma prova oral, não uma entrevista, nos meus padrões - mas não disse isso né) e que tinha planejado revisar caso passasse (mas acho que deveria ter começado a revisão assim que decidi que ia aplicar <õ>)

E, no fim das contas, pra mim foi um alívio pessoal não ter entrado no programa. Senti um grande peso saindo das minhas costas de não precisar falar mais que sou veterinária pra ninguém e ver a pessoa abrindo aquele sorriso cheio de expectativas: "que legal! Eu sempre quis ser veterinári@ também" "Sabe, o pet da tia da minha vizinha tem isso, o que você acha que é?" "Quando meu cachorro/gato/papagaio tiver problema, já sei pra quem perguntar!". E eu ter que explicar que não trabalho com clínica/cirurgia/odontologia/etc..., que não tem como saber sem ver o animal, etc... (algo que eu não sabia que era um peso pra mim, mas, aparentemente, era). Aliás, percebi que o peso que saiu foi também porque eu "perdi minha obrigação" (se bem que ninguém é obrigado a nada nessa vida) de contar pra quem me pergunta "o que você fazia no Brasil?" minha história triste como eu era veterinária no Brasil e como é difícil ser veterinário no Canadá e como eu estou no limbo veterinária-sem-ser-veterinária. Agora, oficialmente pra mim (e pro Canadá desde sempre), não sou mais veterinária (apesar do conhecimento ainda estar aqui e eu puder usar isso em alguns momentos, para efeitos oficiais, não sou vet no Canadá). Tentei, como todo mundo falou pra eu tentar, não consegui, agora é bola pra frente! Vou começar a dizer que sou Medical Laboratory Technician e é isso aí! \õ/

Até mais,
Mari! xD

PS: Mesmo eu não tendo conseguido, eu realmente acredito que se eu tivesse mandado muito bem na entrevista eu teria entrado. Então, fica aí a dica pra caso alguém queira aplicar um dia, se prepare muito. Mas muito. Como nunca se preparou na sua vida! E é possível sim fazer residência (ou participar de um DVS program) no Canadá - eu achei que tinha grandes possibilidades de eu nem ser chamada pra entrevista por ter me formado fora, mas, aparentemente, estava muito enganada! ;)

PS 2: Nunca se sabe se um dia eu vou mudar de ideia e acabe aplicando de novo. Mas, para todos os efeitos, não é minha prioridade no momento nem planejo que seja num futuro distante! =D

PS3: Em tempo

Ter de 18 - 25 é tipo jogar um jogo de video game em que você pulou o tutorial e agora está andando aleatoriamente sem noção de como nada funciona
Ter de 25 - 30 é tum pouco depois nesse jogo, quando você descobriu como as coisas funcionam, mas tomou decisões ruins ao longo do caminho e agora está terrivelmente despreparado para o que você deveria estar fazendo
Ter de 30 - 35 é chegar a conclusão que, se brandir a espada violentamente sem direção enquanto grita fez você chegar aonde está agora, melhor continuar assim.
[tradução livre]

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